quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Aspectos peculiares ao Rito adonhiramita

A DENOMINAÇÃO ADONHIRAMITA
O nome Adonhiramita consta da lenda da Ordem dos Cavaleiros Noaquitas que somente admitia como membros, maçons Adonhiramitas, possuidores do grau de Cavaleiro Rosa Cruz.
"Adonhiram, nome composto do hebreu Adon e de Hiran, isto é, Senhor Hiram. Hiram é usado aqui como 'autor da vida'."
Ainda:
"Adonhiram, nome hebreu composto de dois outros: Adon, que significa 'Senhor', e Hiram, que significa' altivez de vida'.
Chamam-no arquiteto do templo, não somente porque a verdadeira igreja segue os planos do Deus Supremo, mas também porque os Maçons estão persuadidos de que ele é o soberano Mestre de tudo".
Quanto à possibilidade de Adonhiram não ser o artífice Hiram Abif, verifica-se o seguinte:
"A Bíblia conhece um personagem chamado, segundo os Livros, Adonhiram (I Reis 4,6), Adoram (II Samuel20, 24), ou Hadoram (II Crônicas 10, 18). Trata-se, sob essas três grafias, do encarregado dos impostos de Davi, de Salomão e depois de Roboão. Ele foi apedrejado até a morte pelos israelitas das dez tribos que 'a partir desse dia foram infiéis à casa de Davi e a Judá'."
Ainda consta uma nota que elimina qualquer dúvida sobre o assunto:
"...Hiram fez um dos bens mais preciosos a Salomão, na pessoa de Adonhiram, saído de . seu sangue, filho de uma viúva da tribo de Nephtali: Seu pai chamava-se Hur, excelente operário na arquitetura e na fundição de metais. Salomão, conhecendo suas virtudes, seu mérito e se.us talentos, distinguiu-o com o posto mais eminente, dando-lhe a direção do templo e de todos os operários..."
Como se pode constatar pelos textos não existe qualquer contradição entre a lenda do mestre construtor ensinada nas sessões adonhiramitas em relação aos demais ritos.
Entretanto existe outra interpretação essencialmente fundamentada no texto bíblico, onde fica claro que o arquiteto do templo não teria sido Hiram Abif, e sim, Adonirão, ou Adonhiram. Hiram Abif, teria sido apenas o artífice das obras de arte:
"...Aduram presidia os trabalhos. Josafat, filho de Ailud, era o cronista."
"...Aisar, prefeito do palácio; e Adonirão, filho de Abda, dirigente dos trabalhos."
De fato, analisando-se atentamente as Escrituras, qualquer leitor será obrigado a concordar.
Não há qualquer menção ao artista natural de Tiro como dirigente dos trabalhos do Templo de Salomão. Este, quando citado, sempre é associado à atividade artesanal. O mesmo não ocorre com Adonhiram, várias vezes citado como dirigente dos trabalhos e, especificamente em II Crônicas 10, 18; é relatada a morte de Aduram, que a serviço do rei, foi assassinado, marcando o início da "dissidência da casa de Israel, que dura até hoje"
LOCALIZAÇÃO DAS COLUNAS E DOS VIGILANTES
O detalhe da colocação das Colunas nos templos adonhiramitas segue um raciocínio lógico: Sendo a orientação do Templo do Oriente para o Ocidente, considera-se o Oriente como referencia para a fixação do norte e sul, ou direita e esquerda. O texto bíblico assim retrata a colocação das Colunas:
"Hirão levantou as colunas no pórtico do templo; a coluna direita que chamou Jaquin, e a esquerda, que chamou Boaz. "(1 Reis, 7, 21-22).
Conforme consta nos Livros de Reis, as colossais Colunas foram erigidas no átrio do Templo de Salomão, e não no seu interior, conforme hoje as encontramos nos Templos Maçônicos. O principal ponto do Templo era o Santo dos Santos (Sanctum Sanctorum), que ficava além do salão destinado aos sacerdotes, a nave central.
Assim, qualquer referência sobre localização de suas peças decorativas, necessariamente seriam tomadas a partir daquele local sagrado, construído para guardar a Arca da Aliança que continha as Tábuas da Lei.
"Numa infinidade de lojas, dá-se como significado da palavra dos Aprendizes 'a força está em Deus e para a de Companheiro, 'a sabedoria está em Deus' ou 'perseverança no bem'. São erros imperdoáveis, contrários à razão, às leis da Maçonaria e à Sagrada Escritura: primeiramente, todos os Maçons concordam com o que a sabedoria procura inventar e a força, sustentar. Ora, não é ridículo querer sustentar o que ainda não existe? Em segundo lugar, a base da Maçonaria é a sabedoria; e a última prova que elimina todos as réplicas é que as interpretações dos nomes próprios da Bíblia dizem expressamente que é a coluna J que diz sabedoria e que a coluna B diz força: isto não é suficiente?"
O Primeiro Vigilante fica na Coluna do Sul, próximo à Coluna B, e o Segundo Vigilante, na Coluna do Norte, próximo à Coluna J.
ROMPIMENTO DA MARCHA
Os Adonhiramitas rompem a marcha com o pé direito, que era o costume dos Maçons Operativos quando entravam no sítio das construções. Esta prática não deve ser analisada sob qualquer inspiração oculta, fundamentada pela superstição.
A GRAVATA BRANCA
A gravata utilizada em loja do Rito Adonhiramita é de cor branca.
A gravata é uma peça indumentária de criação recente, inspirada nos cordéis utilizados para o fechamento da camisa antes da invenção dos botões, que terminava em um laço à altura do pescoço.
O vestuário maçônico utilizado pelos Adonhiramitas é composto pelo terno, sapato, e meias pretas. Camisa, gravata e luvas brancas. À exceção das luvas que têm um simbolismo próprio, as peças brancas do vestuário são aquelas consideradas peças interiores. A gravata é complemento da camisa, logo, parte integrante da camisa. Sendo a camisa branca, a gravata deve ser branca.
O TERNO PRETO E A UNIFORMIDADE DO VESTUÁRIO
Aparentemente, existe um rigor excessivo quanto a este detalhe. Entretanto não é um mero detalhe. O vestuário uniforme dos Maçons Adonhiramitas busca simbolizar a igualdade que deve existir entre todos os irmãos.
A uniformização nivela os irmãos, dissipando possíveis diferenças de caráter econômico ou social, demonstra também a disciplina do Maçom. Disciplina não como um fim em si, mas disciplina como meio de aperfeiçoamento.
Também a doutrina do rito está presente no elemento vestuário como exteriorização da disciplina maçônica. A origem desse costume remonta a própria origem da maçonaria e aos cavaleiros cruzados.
Os cruzados eram as ordens de cavalaria que surgiram no seio daquele movimento. Essas ordens tinham, dentre seus objetivos estabelecer a disciplina e a uniformidade dos costumes num universo de múltiplas nacionalidades, sem a qual, não sobreviveriam.
O CALÇAMENTO DAS LUVAS
Antes de dar entrada no Templo ocorre a cerimônia do calçamento das luvas, momento de rara beleza e significado, onde o Mestre de Cerimônias diz:
"...Meus Amados Irmãos, se desde a meia­noite, quando encerraram os nossos últimos trabalhos, conservastes as mãos limpas, calçai as vossas luvas... ".
Neste momento observa-se uma viagem interior ("Visita Interiora Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem - VITRIOL" - Visita o interior da Terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta), uma viagem solitária e profunda, um resgate dos mais puros valores inerentes ao ser, a busca da própria alma. Uma viagem para a qual as condições sociais profanas, a cor, a raça, os credos políticos e os metais que distinguem o rico do pobre, tornam-se fardos desnecessários e incômodos.
Em seguida o Mestre de Cerimônias diz:
"...Silêncio meus irmãos, eu vos peço um momento de reflexão a fim de darmos ingresso no Templo".
Forma-se, neste momento, a Egrégora, uma reflexão agora coletiva elevada ao CRIADOR DO MUNDO, ao desejo da paz entre os homens de boa vontade; ao desejo que todos os homens sobre a face da terra se transformem em homens de boa vontade.
Aos desesperados para que encontrem a esperança. Aos tiranos para que encontrem o caminho da prática da justiça.
As luvas uniformizam as mãos. Tornam as mãos calejadas do operário tão macias quanto às mãos do intelectual, do médico, do engenheiro, etc., assim como se igualaram pelo uso uniforme das outras peças do vestuário. Simbolizam sobretudo a pureza, qualidade que deve estar presente em todos os atos de um maçom.
O CHAPÉU EA ESPADA DO MESTRE
O chapéu, assim como a espada, usados pelos Mestres do Rito Adonhiramita são, dentre os aspectos exteriores, as principais heranças de sua origem escocesa. Quando do seu estabelecimento na França, o então chamado "sistema escocês" era praticado quase que exclusivamente por membros da aristocracia, pessoas essas que possuíam o direito do uso do chapéu e da espada. Ao homem comum, tais objetos não eram permitidos, sobretudo a espada, símbolo de condição social elevada.
Inicialmente, era utilizado apenas dos graus "escoceses". Entretanto, assim como outros elementos, os praticantes dos altos graus começaram a introduzi-los nos graus simbólicos.
Dos ritos escoceses, apenas o Adonhiramita conservou o uso do chapéu e da espada pelos mestres, inclusive nas lojas de Aprendiz e Companheiro.
O NOME HISTÓRICO
A iniciação no Rito Adonhiramita contempla um batismo no qual o neófito recebe seu nome simbólico, histórico ou heróico, quando da sagração:
"...e, para que de profano nem o vosso nome vos reste, eu vos batizo com o nome histórico de..."
Sua origem, portanto, é de natureza iniciática, e não restrita à Ordem Maçônica.
A iniciação para o maçom é o nascimento para um mundo de luz. Sua condição de nascimento e vida no mundo profano perde toda a importância no interior do Templo.
Dentro do princípio da igualdade, um nome famoso que traduz distinção social e econômica no mundo profano seria um elemento atentatório à paz e harmonia que deve reinar em suas colunas, daí o nome simbólico para igualar aos demais.
AS DOZE PANCADAS ARGENTINAS
Todas as escolas iniciáticas chamavam seus membros ao trabalho através de sinais sonoros.
Verifica-se ainda nas cerimônias orientais o uso de tambores, buzinas, gongos, etc.
No cerimonial católico, o uso do sino, era o sinal para o início e término do culto, embora nos dias atuais esteja sendo gradativamente abandonado.
É sabido que a Maçonaria operativa utilizava-se dos átrios das catedrais em construção para ali realizarem suas sessões. Trata-se de uma prática assimilada ainda na idade média e preservada até nossos dias pelos Adonhiramitas.
As doze pancadas argentinas são o diapasão que estabelecem a "egrégora", criando uma sintonia única.
OS CERIMONIAIS DE INCENSAÇÃO E DO FOGO
A abertura dos trabalhos em uma Loja Adonhiramita é precedida pelos cerimoniais da incensação e do fogo. A incensação, desde os tempos primordiais, inclusive nos relatos bíblicos, era uma prática que simbolizava oferenda a Jeová. Além da oferenda, o incenso tem o caráter da purificação.
A incensação, inicia-se pelo Oriente, percorre o Ocidente purificando-o e ofertando ao Grande Arquiteto do Universo os suaves odores das mais puras resinas e sementes. Purificado o interior do Templo, purifica-se seu exterior. Os irmãos visitantes que permanecem ou virão a estar na Sala dos Passos Perdidos são a razão deste detalhe.
O cerimonial do fogo, análogo ao de incensação, traz a luz que vem do Oriente ao Ocidente iluminando e aquecendo os hemisférios, tomando-os habitáveis e férteis.
A conjugação do cerimonial da incensação e do fogo simboliza o que há de mais sublime nos trabalhos em loja maçônica. Antes de se evocar a proteção do SUPREMO, a Loja é purificada. A purificação é elevada como singela oferenda Àquele que é considerado O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO. Ele então se manifesta, assim como o fez no início, através da Luz que aquece e ilumina, dissipando as trevas e propiciando o mistério da vida.
A SAUDAÇÃO VIVAT, VIVAT, VIVAT
É a antiga saudação utilizada ainda no início do Século XVIII. No Rito Francês, após a Revolução Liberal de 1789, foi substituída por LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE. Na Loja de Coustos, em Lisboa (1741-1743), em Rituais no idioma francês, a saudação utilizada era o "VIVAT, VIVAT, VIVAT', conforme relata Oliveira Marques em sua História da Maçonaria em Portugal.
Tem o mesmo significado da antiga saudação escocesa que pronunciada HOUZÉ, HOUZÉ, HOUZÉ, deve ser grafada Huzza, Huzza, Huzza, cuja tradução do hebraico é VIVA, VIVA, VIVA, que em latim corresponde ao VIVAT, VIVAT, VIVAT.
EVANGELHO DE SÃO JOÃO
O Evangelho de São João é a principal característica herdada do escocismo. Era de uso geral em todas as lojas da França que admitiram a origem da Maçonaria ao tempo das Cruzadas. Ainda na obra de Oliveira Marques verifica-se a referência ao Evangelho de São João na Loja de Coustos. Tal referência é a reprodução do depoimento de Coustos à Inquisição Portuguesa (Processo n.o 10.115, folha 47-47v) que assim explicava a escolha:
"...que a razão e fundamento que têm os Mestres desta congregação para mandar tomar o juramento aos que entram de novo, sobre a Bíblia ou Livro dos Evangelhos, no lugar em que se acha o de São João, é a seguinte: porque, destruindo-se e arruinando-se o famoso Templo de Salomão, se achou debaixo da primeira pedra uma lâmina de bronze em que se achava esculpida a palavra seguinte - GEOVÁ - que quer dizer - DEUS - dando assim a entender que aquela fábrica e templo foi instituído e edificado em nome do mesmo Deus a quem se dedicava, sendo o mesmo Senhor o princípio e o fim de tão magnífica obra; e como, no Evangelho de São João, se acham as mesmas palavras e doutrina, por essa razão se manda tomar o juramento sobre aquele lugar, para assim mostrar que todo o instituto dessa congregação se vai fundando na mesma doutrina que Salomão observava de sua sumptuosa obra."
...Ajoelha com o joelho direito sobre um esquadro, - põe a mão direita sobre a Bíblia, aberta no Evangelho de São João, pega, com a mão esquerda, num compasso, colocando uma ponta sobre o peito esquerdo;.....
O TRATAMENTO AMADO IRMÃO
Amado Irmão é o tratamento utilizado pelos Adonhiramitas. Sua origem é desconhecida mas, reconhecidamente, sua adoção é antiga. É encontrado em antigos rituais do século XVIII:
"Em que golfo, em que vagos pensamentos, meus amadíssimos Irmãos, vos vejo ainda flutuando Ferrada sobre as âncoras, no porto mesmo, não deixa uma alterosa nau de flutuar incerta, ao vai e vem continuo das cavadas ondas"
Na 17.ª Ata da Assembléia do Povo Maçônico, do Grande Oriente, realizada em 04 de outubro de 1822, referindo-se à eleição e posse do Imperador D. Pedro I ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente, consta o seguinte trecho:
"...prestação do juramento do nosso muito amável e muito amado Irmão Guatimozin...".
A razão do tratamento "na atualidade justifica-se pela tradição, bem como demonstra no próprio chamamento os laços de amor fraterno que unem os maçons.
A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO.
O nascimento simbolizado pela iniciação é procedido pelas fases de aprendizado e companheirismo. O homem novo, advento da ec1osão do óvulo iniciático no interior da terra (Câmara das reflexões) passará pelo processo de aculturamento. Aprenderá o significado oculto dos símbolos, somente acessível aos iniciados. Trata-se de uma nova linguagem.
Uma criança em tenra idade começa a aprender a falar quando começa a distinguir os sons.
Inicialmente os sons simbolizados pelas vogais, diz-se então que a criança está a "soletrar".
A combinação das letras resulta em outros sons de natureza mais complexa, para tanto, surgem as consoantes que dão origem às sílabas, passará então a criança a "silabar'.
Para o conhecimento da palavra, necessário se faz conhecer a letra e posteriormente a sílaba. Somente assim a palavra poderá ser utilizada de forma a se tomar compreensível e útil.
Mesmo no mundo profano os neófitos em qualquer ramo da atividade humana mais têm a ouvir e aprender que falar e ensinar.
Calar para ouvir, ouvir para aprender, aprender para ensinar.
O falar não é o elemento primordial em um sessão maçônica, notadamente do Rito Adonhiramita.
O Rito é reconhecidamente hermético, refletindo-se diretamente em sua liturgia. A interação entre os indivíduos se dá numa dimensão não física. É uma dimensão além dos sentidos não alcançada pela audição, olfato, tato, visão e locução.
A palavra é instrumento de transmissão, de convencimento. O trabalho maçônico transcende a necessidade do convencimento.
Aqueles que desconhecem a profundidade do sentido oculto da Lei Iniciática do Silêncio argumentam que o silêncio dos aprendizes e companheiros se confronta com o princípio maçônico da igualdade. Entretanto, há de se considerar que o princípio da igualdade não é ferido quando a eles é proibido o conhecimento dos sinais, toques e palavras dos demais graus.
Há "um tempo para cada coisa." (Eclesiastes, 3, 1-8).