terça-feira, 2 de novembro de 2010

REVISTA PARANÁ MAÇÔNICO EDIÇÃO 00




Em setembro de 1998 surgia a Revista Paraná Maçônico-Edição 00, com uma capa belíssima, uma verdadeira obra de arte elaborada pelo Irmão Marco Lago, com o por do sol representando a esperança de dias melhores e o pinheiro, símbolo do Paraná, representando a beleza e a força de um povo ordeiro e trabalhador incansável, sempre em busca do progresso e da fratenidade sincera e verdadeira

domingo, 2 de maio de 2010

RIQUEZA E CARIDADE, HÁ SALVAÇÃO COM ESTAS OU SEM ESTAS?

Luiz Paulo Wille

Trabalho apresentado em Grau de A.:M.:, em 15/06/2009

Meus Irr.:, quem já conhece-me sabe que não sou muito diplomático, ou seja, apresento minhas idéias e/ou conclusões de forma pouco adequadas. Tentarei não fazer isso hoje. Começo lendo a Parábola dos Talentos (Mateus, 25:14 a 30).

O Senhor age como um homem que, tendo que fazer uma longa viagem para fora de seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens. E tendo dado cinco talentos a um, dois ao outro e um a outro, segundo a capacidade diferente de cada um, logo partiu.

Aquele, pois, que havia recebido cinco talentos, foi-se embora; negociou esse dinheiro e ganhou outros cinco.

Aquele que havia recebido dois, ganhou da mesma forma outros dois. Mas aquele que havia recebido apenas um, cavou um buraco na terra e lá guardou o dinheiro do seu amo.

Muito tempo depois, tendo o amo voltado, chamou seus servidores, para que lhe prestassem contas.

E aquele que havia recebido cinco talentos veio e apresentou-lhe outros cinco, dizendo-lhe:

Senhor, vós me colocastes cinco talentos nas mãos; e tendes aqui mais outros cinco que ganhei.

O amo respondeu-lhe:

Bom e fiel servidor, porque fostes fiel com pouca coisa, dar-vos-ei muitas outras; entrai no gozo de vosso Senhor.

Aquele que havia recebido dois talentos, também veio se apresentar e disse:

Senhor, vós me colocastes dois talentos nas mãos; tendes aqui mais outros dois que ganhei.

E o amo respondeu-lhe:

Bom e fiel servidor, porque fostes fiel com pouca coisa, dar-vos-ei muitas outras; entrai no gozo de vosso Senhor.

Aquele que tinha recebido apenas um talento veio em seguida e lhe disse:

Senhor, sei que sois exigente; que ceifais onde não semeastes, e que colheis onde não haveis semeado; porque eu vos temia, fui esconder vosso dinheiro na terra; eis aqui, eu vos entrego o que vos pertence.

Mas o amo respondeu-lhe:

Servidor mau e preguiçoso, sabíeis que ceifo onde não semeei, e que colho onde não espalhei; devíeis, pois, colocar meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, em meu retorno, retirasse com juros o que me pertencia.

Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o àquele que tem dez talentos; pois dar-se-á a todos que têm, e terão em abundância; mas àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á até mesmo o que parece ter; e que se lance esse servidor inútil nas trevas exteriores: ali haverá choros e ranger de dentes.”

Meus Irr.:, a riqueza se tornaria um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem se interpretarmos ao pé da letra as palavras de Jesus. Assim, analisando num contexto mais amplo, pode-se dizer que a pobreza é para uns a prova de paciência e resignação, enquanto a riqueza é para outros a prova de caridade e abnegação.

Nesta linha, podemos dizer que a riqueza é distribuída por Deus?

Diante da resposta afirmativa podemos lembrar daqueles que em poucos anos (ou num momento de sorte) que passam da miséria à fortuna ou o contrário.

E Jesus disse a seus discípulos: Eu vos digo, em verdade, que é bem difícil a um rico entrar no reino dos Céus. Ainda vos digo mais: É mais fácil um camelo([1]) passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos Céus. (Mateus, 19:16 a 24; Lucas, 18:18 a 25; Marcos, 10:17 a 25)

Inicialmente passo a evidenciar a riqueza pois esta, sem dúvida, é prova bastante arriscada e até mais perigosa do que a própria miséria, em virtude das tentações que oferece e até um meio inevitável de perdição.

O que Jesus quis dizer com “fora da caridade não há salvação”.

Os bens não são obstáculo à salvação, mas o amor possessivo a estes “bens terrenos” será obstáculo.

Com freqüência a riqueza traz o orgulho, o egoísmo, o laço mais forte que prende o homem à Terra e desvia seus pensamentos do bem, e se esta ocorrer em muito pouco tempo pode ainda fazer com que aquele que a percebe possa esquecer da condição de miséria ou mesmo dos companheiros que o ajudaram quando ainda vivia sob falta de condições, tornando-se insensível, egoísta e fútil.

Contudo, embora a riqueza dificulte o caminho daquele que a possui, não significa que o torne impossível e não possa vir a ser até um meio de salvação nas mãos daquele que dela saiba fazer bom uso.

Quando Jesus respondeu ao jovem que perguntava como alcançar a vida eterna e foi-lhe respondido para desfazer-se de todos os bens e segui-lo, não pretendia estabelecer uma condição absoluta, ou seja, que aquele transformasse-se em mendigo voluntário.

Quero crer que Jesus não quis dar entender que só se consegue a salvação desfazendo-se de tudo, acredito que o objetivo era mostrar que não basta ser um padrão de homem honesto perante o mundo – guardando os mandamentos (não fazer o mal; não maldizer seu próximo; não ser leviano, fútil ou orgulhoso; honrar seu pai e sua mãe), mas que a verdadeira caridade decorre da virtude da renúncia em favor do próximo.

Se as palavras de Jesus forem consideradas ao pé da letra, seria a abolição da riqueza por ser prejudicial à felicidade futura, seria a condenação do trabalho que a pode conquistar.

Deus a concentra em certos pontos para dali ela se expandir em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades. Assim, a missão da riqueza é gerar trabalhos de toda a espécie e, consequentemente, o trabalho desenvolve a inteligência e eleva a dignidade do homem, permitindo a este dizer com satisfação que ganha o pão que o alimenta, enquanto a esmola humilha e envergonha.

Mas percebe-se que por vezes Deus dá riquezas à pessoa incapaz de fazê-la frutificar para o bem de todos, o que prova a sabedoria e bondade de Deus que dá ao homem o livre arbítrio de estabelecer a diferença entre o bem e o mal.

Então podemos ver a riqueza como um meio de colocar o homem à prova moral. E, como esta é, ao mesmo tempo, um poderoso meio de ação para o progresso cada qual deve possuí-la – oportunamente – para aprender a utilizá-la e demonstrar que uso dela saberá fazer. Se todas as pessoas a possuíssem, ninguém trabalharia, e o melhoramento da Terra sofreria com isso.

Verdadeiramente, o homem só possui como seu aquilo que pode levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e desfruta durante sua permanência na Terra mas é forçado a abandonar tudo ao deixa-la.

A beneficência é apenas um dos modos de empregar a riqueza!.

Ela alivia a miséria atual, mata a fome, protege do frio e dá asilo ao abandonado.

A parábola dos talentos expressa: Bom e fiel servidor, entrai no gozo de vosso Senhor!

Entendo que devemos proceder em caridade como princípio básico de elevação para com Deus, a questão de dar pouco ou muito depende de cada um.

Portanto, “Dai a esmola quando for necessário, mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não tenha do que se envergonhar.”

Meus Irr.:, somos devedores uns dos outros e somente pela união sincera e fraternal será possível esse melhoramento. Contudo, meus questionamentos passam por Mateus 7:6: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.”

Onde os porcos são os que têm aparências de cristãos, mas são filhos do maligno” (Mateus 13:38), esses que são falsos não merecem nossa caridade: "Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. Consultávamos juntos suavemente, e andávamos em companhia na casa de Deus" (Salmos 55:12-14).

Eu mesmo já me respondo com o que é provérbio muito lembrado: “Fazei o bem sem olhar a quem”, que num pensamento mais intrínseco do ser humano decorre de uma vontade que o “seu bem” retorne pelas ações alheias, como uma situação de causa e efeito; que está no mesmo Mateus 7:12 da seguinte forma: “..., tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.”

Então, não prego pela “não caridade”, prego pelo zelo com nossos tesouros, incluindo entre estes o nosso óbulo dado em nosso tronco de beneficiência. Justifico.

Quando um homem trabalhou bastante, e com o suor do seu rosto acumulou bens, ouve-se freqüentemente que, “quando o dinheiro é ganho, sabe-se dar-lhe valor”.

A condição que nos liga ao reino de Deus é algo sublime, mas passa por um caminho estreito que, nem sempre, permite isenção de sofrimentos.

“Se sois pobres, não invejeis aos ricos, pois a riqueza não é necessária para a felicidade. Sois ricos, não vos esqueçais de que vossos bens vos foram confiados, e que deveis justificar o seu emprego, como uma prestação de contas de um empréstimo. Não sejais depositários infiéis, fazendo com que eles sirvam apenas para a satisfação de vosso orgulho e sensualidade; não vos acrediteis com o direito de dispor para vós unicamente o que recebestes, não como doação, mas somente como um empréstimo.”

Temos o dever de cuidarmos primeiro de nós mesmos e, em seguida, aos outros. O dever moral é a lei da vida, encontra-se desde os menores detalhes, assim como nos mais elevados atos.

O dever íntimo do homem é governado pelo seu livre-arbítrio, este aguilhão da consciência, guardião da integridade interior, o adverte e o sustenta, mas, muitas vezes, permanece impotente perante os enganos da paixão.

E Deus criou todos os homens iguais perante a dor; pequenos ou grandes, incultos ou esclarecidos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um avalie com sensatez o mal que pôde ou pode fazer.

O critério para o bem, bem mais variado em suas expressões, não é o mesmo.

Por sua vez a virtude, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.

Aquele que faz alarde de sua virtude não é virtuoso, pois lhe falta a principal qualidade: a modéstia.

Carlos Drummond de Andrade disse certa vez: “A caridade seria perfeita se não causasse satisfação em quem a pratica”.

Compreensível que o homem que faz o bem sinta no fundo do coração uma satisfação íntima, mas, uma vez que essa satisfação se exteriorize para provocar elogios, degenera em amor-próprio, levando um ato de caridade a um patamar vil, mesmo que aquele que o recebeu o tenha como vital.



[1] Em hebreu, camelo era também empregada para designar “cabo”; popularmente era chamada de “camelo” a corda de amarrar navios que era feita com o pêlo deste.