quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

AS TRÊS GRANDES LUZES EMBLEMÁTICAS DA MAÇONARIA

Na iniciação maçônica, após o juramento e ao receber a Luz, o neófito, defronta-se imediatamente com as três grandes Luzes emblemáticas da Maçonaria universal que encontram-se sobre o Altar dos Juramentos: O Esquadro, o Compasso e o Livro da Lei.
Neste momento, a recepção da Luz é o ponto culminante de sua iniciação maçônica, tendo como objetivo maior a relação que une o ser a Deus.
Quando o maçom põe a mão nua e faz o juramento sobre as três Grandes Luzes da Maçonaria - o Livro da Lei Sagrada, o Compasso e o Esquadro -, ele assume um compromisso pelo Homem inteiro, com todas as suas qualidades e defeitos, com suas forças e suas imperfeições, confiando em que o contato entre essas três Grandes Luzes e si próprio redundará no seu aperfeiçoamento.
Este ato solene é realizado em presença do Grande Arquiteto do Universo, quando adquire um caráter espiritual, comprometendo a consciência religiosa do ser homem. Nestas condições, a sua Honra e a sua Fé dão garantia da legitimidade de suas afirmações.
Partindo desta premissa, cumpre-nos a tarefa de pincelar nos parágrafos ulteriores, alguns dos significados individuais e conjuntos das Três Grandes Luzes da Maçonaria.

O COMPASSO
O Maçom aplica esta ferramenta às suas morais. Nesse sentido: “O compasso nos lembra da ferramenta da justiça infalível e imparcial do Grande Arquiteto. Depois de definir os limites do bem e do mal para nossa instrução, ele nos recompensará, ou punirá, por termos obedecido ou desrespeitado seus comandos divinos(…)”.
Com o Compasso podemos traçar e desenhar o círculo espelhado para o infinito, centralizado pelo ponto que pode representar o início de toda a evolução, o ovo cósmico.
Ao abrir e fechar suas pontas delimita espaços. Representa a Justiça e nos ensina o princípio e o fim de nossas prerrogativas. Na ação como instrumento figura a dualidade de suas hastes e a união destas na sua junção. É nisto que se exprime um dos mais sublimes preceitos maçônicos, ou seja, o da união, da harmonia e do amor entre os maçons (Vide Laços Fraternais, Corda de 81 nós).
Ele é composto de dois braços articulados e ligados pôr um eixo. Com ele descrevem-se círculos cujo centro ele indica nitidamente, assim como os raios e o diâmetro. Tais círculos serão a delimitação do trabalho maçônico na sociedade, e internamente, construindo o Templo.
O compasso, portanto, é a imagem do pensamento nos diversos círculos que ele percorre; o afastamento de seus braços e sua aproximação representam os diferentes modos do raciocínio que, de acordo com as circunstâncias, devem ser abundantes e amplos, ou precisos e estreitos, mas sempre claros e persuasivos. O absoluto e o Relativo estão representados pela ação do Compasso, que é também a figura da dualidade (braços) e da união (a cabeça do Compasso). Por esta razão adota a Maçonaria o Compasso como um de seus grandes símbolos, e coloca-o sobre o Altar da Loja, enlaçado com o Esquadro para simbolizar o Macrocosmo, e o Livro da Lei para significar a sabedoria que ilumina e dirige tanto o Macrocosmo (conjunto de todos os corpos que constituem o universo) como o Microcosmo (o Maçom) representado pelo Esquadro. Os três são assim considerados as grandes jóias e as grandes luzes da Maçonaria.
Deste modo, o compasso sobre o Livro da lei representa o princípio divino enunciado pelo Grande Arquiteto do Universo, que deve ser manifestado tanto no cosmos quanto no indivíduo, permitindo que os dois funcionem e sejam compreendidos de acordo com as leis que governam o universo.

O ESQUADRO
Por sua vez, o Esquadro, para execução dos projetos é imprescindível, significando como que a base de um edifício. É um instrumento muito útil para traçar ângulos retos, baseado no teorema de Pitágoras. Podemos aplicar este teorema ao nosso comportamento na vida profana, onde as linhas retas do esquadro podem indicar-nos o caminho mais curto para a prática das virtudes.
Esquadro significa a retidão, limitada por duas linhas: uma horizontal, que representa a trajetória a percorrer na Terra, ou seja, o determinismo, o destino; e outra vertical, o caminho para cima, dirigindo-se ao cosmo, ao universo, ao infinito, a Deus. Também simboliza a carne, o corpo físico.
O Esquadro (do latim exquadra e exquadrare, esquadrar) é um instrumento, cuja propriedade é tornar os corpos quadrados; com ele seria impossível fazer um corpo redondo.
Simboliza, portanto, a importância de ajustar os cantos retangulares dos edifícios e a necessidade de colocar a matéria bruta na forma certa. O esquadro nos ensina a regular nossas vidas e ações segundo a linha e regra maçônica, e a harmonizar nossa conduta nesta vida para nos tornar aceitáveis a esse ser divino de quem toda a bondade emana e a quem prestamos contadas de nossas ações.  Assim, segundo a doutrina de ROBERT LOMAS:
“Com a ajuda do esquadro, a matéria bruta é colocada na forma certa. Usando-o, os Irmãos conseguem resolver quaisquer animosidades que surgirem entre eles, para o negócio da Maçonaria ser conduzido com harmonia e decoro. Logo, o Esquadro ensina moralidade e como regular nossas ações”.
É certo que cada Loja é comandada por um Venerável Mestre e ele é auxiliado pelos Primeiro e Segundo Vigilantes. Cada um tem uma função na administração da Loja, e isso é marcado por um símbolo de ofício e uma explicação ritualística, metafórica e poética.
O Papel do Venerável Mestre é empregar e instruir os Irmãos na Maçonaria: “Assim, como o sol aparece no Oriente para principiar a sua carreira e romper o dia, assim o Venerável ali tem assento para abrir a Loja ajudar os Obreiros com seus conselhos e iluminá-los com suas luzes.”
O Venerável usa o Esquadro como uma jóia pendurada em seu cordão; nesse Esquadro, os dois braços não são iguais, estão numa relação de três por quatro. Em geral, ele é adornado em seu anverso, o que implica um sentido bem definido. Sobre o peito do Venerável, o braço mais longo fica do lado direito; assimila-se assim a preponderância do ativo (lado direito) sobre o passivo (lado esquerdo); significa que a vontade de um chefe de Loja só pode ter um sentido, o dos estatutos da Ordem, e que ela só deve agir de uma maneira: a do bem.
Simboliza a Eqüidade, Justiça e Retidão, e constitui a jóia do cargo de Venerável, porque este deve ser o maçom mais reto e justo da Loja. Em conjugação com o compasso, que representa Deus (Espirito), para o qual deve o iniciado dirigir constantemente suas aspirações, o Esquadro substitui o quadrado para representar o mundo, ou o eu inferior com seus desejos e paixões subjugadas e dominadas, e recorda aos maçons que devemos buscar à sua fonte de origem e desprendermos-nos das ilusões terrenas. Por isto se diz que o verdadeiro maçom se encontra sempre entre o Esquadro e o Compasso.
Nos três graus simbólicos é o símbolo da retidão e disciplina maçônica: o Aprendiz e o Companheiro o usam como sinal de Ordem e marcham com os pés formando esquadro, e o Mestre o adota igualmente em sua marcha.
É sabido que, nenhuma Loja Maçônica regular, desenvolve seus trabalhos sem que o Esquadro, o Compasso e o volume da Ciência Sagrada (Livro da Lei), estejam no Altar dos Juramentos, aberto no Grau que à Loja esteja desenvolvendo.
Portanto, o Esquadro é o símbolo da retidão e nos ensina a permanecermos fiéis aos princípios maçônicos.

O LIVRO DA LEI
Ao pleitearmos o ingresso na vida maçônica, tomamos ciência de que embora não seja a maçonaria uma religião, necessária se faz a crença em um Princípio Criador, o qual depois de iniciados denominamos “O Grande Arquiteto do Universo”. Mais ainda, logo que conhecemos os Landmarks, vemos que esta crença é de suma importância, como a vida futura também assim o é, e que é indispensável, no Altar, estar o Livro da Lei.
A sua leitura é feita em todas as sessões, independente do grau, e tem por finalidade, embora seja certa a onipresença de Deus, invocar a benção do Grande Arquiteto do Universo para os trabalhos a serem executados, propiciando a fraternidade e o amor entre os irmãos.
O Livro da Lei, para o nosso espírito, significa a equidade e o traçado espiritual para o aperfeiçoamento do maçom.
Ele é o instrumento da Sabedoria que nos ilumina e nos guia, regulando a nossa conduta tanto no Maçonaria quanto na vida Profana.
Como dito, sobre o Livro da Lei são efetivados nossos juramentos, pois é o ponto culminante do cabedal interior para o recebimento da Verdadeira Luz.
A existência do Livro da lei sobre o altar dos juramentos representa um dos grandes Landmark's da Maçonaria, regramentos estes que retratam uma ordem maçônica completa, tanto do ponto de vista administrativo, quanto litúrgico e místico:
“É indispensável a existência no altar de um 'Livro da Lei'. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades da fé religiosa de seus membros, esse livro pode variar conforme os credos"
Este landmark nos fala do Livro da Lei, porém na verdade é o Livro Sagrado ou Livro da Lei Moral, Bíblia, Alcorão, Torá, Talmud, etc..., pois mais adiante no mesmo Landmark fala-se em fé religiosa e credos, portanto não caberia colocarmos como Livro da Lei, por exemplo, a Constituição Federal de nosso país ou mesmo a Constituição da Potência. Cada povo terá a presença do Livro Sagrado que representar a sua fé, pois a presença do Livro Sagrado (Livro da Lei Moral), constitui a prova da liberdade de culto, porque em cada País a Maçonaria terá o Livro da fé de seus membros. A leitura do Livro sagrado e ou Livro da Lei , dentro dos Templos, sempre constituiu parte importante e altamente cerimoniosa, porque a “palavra” foi dada para ser obedecida, e a renovação de sua leitura, sendo já conhecida por todos, no dia a dia, assume novos aspectos despertando assim, o homem por um caminho tranquilo e traçado em seu beneficio pelo Grande Arquiteto do Universo.
A leitura do Livro da Lei para abertura das sessões, portanto, é considerado liturgia de grande importância, porquanto simboliza a presença efetiva da palavra do Grande Arquiteto do Universo entre os Irmãos.
Segundo matéria da revista A Trolha, o uso do Livro da Lei foi estabelecido em 1717, por intermédio da Grande Loja da Inglaterra, apesar de haver referência ao seu uso a partir de 1670. 
Castelani afirma que:
“a leitura do salmo foi usada pela primeira vez, em meados do século XVIII, por algumas Lojas do Yorkshire, na Inglaterra, quando ainda nem havia um rito plenamente organizado. Em pouco tempo, esse hábito foi abandonado e, já a partir da adoção do rito Inglês de Emulation, (que indevidamente fala-se em “de York”) abria-se a Bíblia em qualquer lugar, sem leitura de versículos. Todavia, esse hábito foi retomado por algumas Grandes Lojas norte-americanas, principalmente a de Nova York. Nos EUA, no simbolismo, só se pratica o rito de York, pois o REAA só é praticado nos Altos Graus. Da Grande Loja de Nova York, por cópia, o salmo foi introduzido no Brasil e em algumas outras Obediências da América do Sul, no REAA. Neste, na verdade, tradicionalmente se abre o Livro em João e são lidos os versículos 1 a 5 do capítulo 1”.
Ao se aprofundar na pesquisa acerca do Livro da lei, percebe-se uma gama de autores que citam haver uma influência muito grande do Novo e do Velho testamento sobre a ritualística maçônica.
Exemplo clássico é a leitura do Salmo 133 que já era adotado desde 1128 pelos Cavaleiros Templários, nas suas cerimônias de iniciações, onde David enaltece a fraternidade citando Aarão no contexto dos Montes Sião e Hermon:
“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” Salmos 133:1-3
No mesmo sentido,  podemos citar alguns exemplos como:
BATERIA: “À porta do Templo (Lucas - cap. 11, ver. 09) - Batei e sereis atendidos. - Pedi e recebereis. - Procurais e achareis.”
INICIAÇÃO:
Viagens – “E guiarei os cegos pelo caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar pelas veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles, e as coisas tortas farei direitas. Estas coisas lhes farei, e nunca os desampararei.” Isaías 42:16
Purificação pela água e pelo fogo – “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Isaías 43:2
Nem nu nem vestido – “E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.” Êxodo 3:5
 - “Então disse o Senhor: Assim como Isaias, meu servo andou três anos despido e descalço...”  (Isaias - cap. 20, vers. 03)
ESPADA FLAMEJANTE – O Venerável Mestre, depois de o iniciado receber a “Luz” o proclama Maçom, por três vibrações ou fagulhas do fogo divino. Simbolicamente morto para o mundo profano o iniciando se habilita para uma nova vida. “E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.” Gênesis 3:24”.
SIGILO MAÇÔNICO – “Edificava-se o Templo com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro se ouviu no Templo quando o edificavam.” (Reis III - cap. 06, ver. 07).
PEDRA BRUTA – “Chegando-vos para ele a pedra que vive, rejeitada pelos homens, mas para  Deus, eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual...”. (1º Livro-Epist. de Pedro – cap. 02, vers. 04 e 05).
A TAÇA SAGRADA – “Porque na mão do Senhor há um cálice, cujo vinho espuma cheio de mistura, dele dá a beber, servem-nos até escórias, todos ímpios da terra”.    (Salmo – cap. 75, vers. 08).
AMOR AO PRÓXIMO – O ritual do 1º Grau é abundante de citações de amor ao próximo. “Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é que vos ameis uns aos outros”.  (1º livro – Epist. De S. João, cap.03, vers. 11).
OS TRES PASSOS DO APRENDIZ – Os passos em esquadria significam que o passo é justo, é reto. Significa que a retidão é necessária a quem deseja vencer na ciência e na virtude. “A vereda do justo é plana; tu que és justo, aplanas a vereda dos justos”. (Isaias – Cap. 26, vers. 07).
LOJA JUSTA E PERFEITA - Para uma Loja ser justa e perfeita é necessário sete Irmãos. “A sabedoria edificou a sua casa e lavrou suas sete colunas”. (Prov. – cap. 09, vers. 01).
A RECONCILIAÇÃO COM TEU IRMÃO - Maçom inimizado ou não reconciliado com seu Irmão não deve entrar em Loja. “Lembrarás que se teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com ele e então voltando, faça tua oferta.” (Matheus – cap. 05, vers. 23 e 24).
O OLHO QUE TUDO VÊ – “Os olhos do Senhor repousam sobre os justos e os seus ouvidos estão abertos a seu clamor.”.  (Salmos – cap. 34, vers. 15).
BENEFICÊNCIA MAÇÔNICA – “Quando, pois deres esmola, não toques trombetas diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles receberam a recompensa. Tu, porém, ao dares a esmola faça que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita.” (Matheus – cap. 06, vers. 02 e 03).
TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA - Segundo a lenda, quando da construção do Templo de Salomão, a Palavra dos Mestres era conhecida por três personagens que tinham o poder de comunicá-la de maneira que a ausência ou desaparecimento de um só dentre eles, tornava-se essa comunicação impossível. E, uma Loja, efetivamente, não poderá ser aberta sem a presença de no mínimo três Mestres. “Uma palavra me foi dita em segredo e os meus ouvidos perceberam o sussurro dela”. (Jó – cap. 04, vers. 12).
O Livro da Lei além de influenciar na ritualista maçônica, representa, portanto, o código moral e ética que deve prescrever a vida que cada um adota e a fé que nos governa.

A SIMBOLOGIA DA UNIÃO ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO
Como visto, o Compasso serve para nos manter nos limites devidos com toda a humanidade, principalmente nossos Irmãos da Maçonaria.
O Esquadro e o Compasso, quando unidos, regulam nossas vidas e ações. O primeiro representa a retidão da matéria de modo a se aperfeiçoar, enquanto que o segundo é um símbolo de energia funcional do espírito e que deve sobrepor-se à matéria, refletindo o aperfeiçoamento do maçom rumo à escada de Jacó.
Enquanto uma Loja estiver em funcionamento, as três grandes luzes da Maçonaria devem permanecer unidas.
No grau de Aprendiz, o Esquadro cobre os dois braços do Compasso, indicando que nesse grau não se pode exigir mais do neófito além de sinceridade e confiança, consequências naturais da equidade e da retidão .
Sendo o Compasso o símbolo do Espírito e o Esquadro o símbolo da matéria, no nosso grau de Aprendiz, a Matéria domina o Espírito, daí o Esquadro sobre o Compasso.
Assim, na marcha das trevas para a luz, encontra-se diversos símbolos, entre os quais as três grandes luzes de uma loja, que são: o Esquadro, o Compasso e o Livro da Lei que devem estar sempre sobre o Altar dos Juramentos em Loja Aberta. O compasso (espírito) encontra-se coberto pelo Esquadro (matéria) significando que, no Aprendiz, ainda pedra bruta, o espírito ainda não conseguiu libertar-se do domínio da matéria .

DA CONCLUSÃO
Devido à extensão da história que deu origem aos símbolos mais usuais da Maçonaria, o presente trabalho limitou-se em realizar breves pinceladas dentro de minhas fronteiras acerca da importância da simbologia para compreensão do trabalho desenvolvido em Loja, tomando especial enfoque ao Rito Adonhiramita, ao grau de Aprendiz, à ritualística maçônica e ao significado espiritual e moral das Três Grandes Luzes da Maçonaria.


Fabrício de  Mello Marsango
Cascavel-PR

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOMAS, Robert, O Poder Secreto dos Símbolos Maçônicos. Ed. Madras, 2014, São Paulo.
REVISTA UNIVERSO MAÇÔNICO. O Significado da Estrela de Davi e do Hexagrama. http://www.revistauniversomaconico.com.br/esoterismo-e-astrologia/o-significado-da-estrela-de-davi-e-do-hexagrama/
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio. Dicionário de Maçonaria. 17ª edição - 06/2011. Editora Pensamento, 2011, São Paulo.
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. 15ª reimpressão - 07/2013. Ed. Pensameto, 2013, São Paulo.
GOMES, Pinharanda. A Regra Primitiva dos Cavalheiros Templários. Ed. Hugin, 1990, Lisboa, Portugal.
Revista A TROLHA, ago. /97;

terça-feira, 15 de abril de 2014

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - UMA VISÃO MAÇÔNICA

A maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas modalidades; é uma escola mútua que impõe este programa: (…) trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano...

  Reza o ritual do Aprendiz Maçom do R.E.A.A. adotado pela Grande Loja do Estado Do Rio Grande Do Sul, que a "maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas modalidades; é uma escola mútua que impõe este programa: (...) trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano (...)". Mais adiante, uma frase, que particularmente reputo como uma das mais ricas e mais representativas de nossos verdadeiros objetivos: "(A Maçonaria) É uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade, pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião".
   "Felicidade do gênero humano" e " tornar feliz a humanidade". Não raro, em todas as obras e rituais maçônicos, deparamo-nos com a palavra "humanidade". A idéia do valor intrínsico da pessoa humana, encontra suas origens no pensamento clássico e no ideário Cristão. Na cultura ocidental, diversas referências encontramos sobre a criação do homem " à imagem e semelhança de Deus", premissa de que foi extraída a idéia de que todo ser humano é dotado de um valor próprio, intrínseco, na figura de uma só pessoa humana está representada toda a humanidade.
    Ao longo da história, podemos comparar a evolução da espécie humana com a idéia do que a humanidade pensa sobre sua própria condição existencial. No pensamento estóico, verificado nas clássicas tragédias gregas, , já estava patente que o ser humano possuía uma dignidade que o distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos são portadores da mesma, em que pese as diferenças sociais e culturais. Mesmo durante o medievo, Tomás de Aquino continuou sustentando a divindade da "dignitas humana". Immanuel Kant sustenta que o homem não pode ser tratado - tem mesmo por ele próprio - como objeto, pois em si está representada toda a humanidade. Os ideais da revolução francesa, com seu tríplice "Liberdade, igualdade e fraternidade", foram uma espécie de condensação de todo um pensamento filosófico produzido pela humanidade ao longo de sua existência.
    No moderno pensamento filosófico e social, a questão da dignidade da pessoa humana está cada vez mais, ocupando espaço como a questão fundamental, pilar de toda existência social, não obstante flagrantes situações de desrespeito individual à condição humana, como bem vimos nos recentes conflitos que permearam o Séc XX. Mas, repito, desrespeito individual, uma vez que praticados por grupos contra grupos. A utópica realização plena da dignidade da pessoa humana continua a ser incansavelmente buscada pelas relações sociais e jurídicas de grupos de nações e grupos de pessoas, mesmo que entre este último, inconscientes de sua própria busca. Quanto à característica utópica dessa busca, lembro-me vagamente das palavras de Galleano, que situa a utopia no horizonte de suas intenções. A cada dez passos que tenta aproximar-se desse horizonte, dez passos ele se afasta. Vinte passos, e vinte passos afastados. Pergunta-se: "Mas afinal, porque a busco? Qual o objetivo de sua existência, se já me convenci de que é inalcançável?" E responde-se: "Seu objetivo é exatamente este, obrigar-me a dar os passos."
    E a Maçonaria atual, em que ponto desta busca utópica se situa? Qual sua atuação no sentido de colaborar, enquanto Ordem, no reconhecimento universal da Dignidade da Pessoa Humana? A história é rica em relatar a participação de Maçons enquanto indivíduos, e da Maçonaria enquanto instituição, na petrificação dos ideais humanitários. A revolução Francesa, o abolicionismo da escravatura no Brasil, os diversos fatos e atos de ilustres maçons no reconhecimento e na implementação de um Estado igualitário, justo e perfeito.        Ao lapidar a pedra bruta em que se reconhece, o Maçom tem por dever aparar as mundanas arestas que o tornam falível enquanto indivíduo, para que em si possa espelhar todo o valor da humanidade plena. Tem por dever absoluto preparar-se para ser o ponto reflexivo de tudo que em si representa esta idéia.
    Ao jurarmos " ... conservar-me sempre cidadão honesto e digno, (...), nunca atentando contra a honra de ninguém...", estamos perante o Grande Arquiteto do Universo, prometendo envidar todos os esforços no sentido de valorizar um dos aspectos mais marcantes inerentes à dignidade da pessoa humana: A honra. Honra e Dignidade são palavras quase que sinônimas, pois encerram valores magnos pertinentes e exclusivos do ser humano.
    Dignidade, ou honra neste caso, são amplamente garantidas na Carta Constitutiva do Brasil, e em quase todas as Constituições do mundo livre, em suas cláusulas imutáveis, ou pétreas. Mas como transformar a utópica afirmativa impressa na Constituição em fatos concretos, no nosso dia a dia? Não podemos mais, a exemplo do passado, destinar o Tronco de Solidariedade para a compra e alforria de um escravo, ou fomentar revoluções libertárias no interior de nossos templos.
    Não podemos mais ficarmos adstritos aos Templos, enquanto lá fora a sociedade a qual pretendemos modificar através de nosso interior aperfeiçoamento, peca pela omissão quanto ao respeito a essa Dignidade. Quantas e quantas vezes, ao final de uma sessão, após um lauto ágape, embarcamos em nossos carros e, na primeira esquina, olhamos indiferentes ao ser humano, descalço, que implora ao "tio" uns trocados? Quantas e quantas vezes, enquanto cidadãos, encaramos impotentes e apáticos a ação do Estado contra as minorias menos abastadas? Quantas e quantas vezes, passamos por um animal maltratado e ficamos penalizados com sua situação, e quando olhamos nosso semelhante, não damos a devida atenção?
    Ora, direis, contar estrelas... Quão inócuo é a observação dos problemas sem a devida apresentação de soluções práticas, e quão fácil é o tratamento filosófico a uma situação real. Mas a Maçonaria, se não esquecesse que a utopia é inatingível e não desse os primeiros passos rumo ao horizonte utópico, não teria como contabilizar entre seus feitos, uma revolução francesa, uma abolição da escravatura, e tantas outras ações tomadas a partir de um ideal humanitário. A nós, modernos Maçons, restam ainda muitos caminhos a serem trilhados. Se, unidos tal nossa simbólica Cadeia de União, agregarmos esforços conjuntos e reconhecermos nosso papel na luta pela Dignidade da Pessoa Humana em termos contemporâneos, ou seja: a garantia à vida, à saúde, à alimentação, à moradia, e à uma existência plena, estaremos justificando às gerações maçônicas passadas, e quiçá, às futuras, nossa razão de existir.
    A proposta atual, e factível, é a educação da geração vindoura. Que nossas Lojas, nossos Maçons, aproveitem instituições já consagradas como apoio à educação infanto-juvenil, tais como o escotismo, os De Molay, as APJ's, os Amigos da Escola, as Filhas de Jó, e outras, para que através de doações individuais ou enquanto Ordem - e tais doações não necessariamente financeiras - possam trabalhar valores que, num contexto a médio e longo prazo, farão a diferença na plena, e aí sim, concreta, valorização da Dignidade da Pessoa Humana.

Marcio Ailto Barbieri Homem - PORTO ALEGRE  - RS